
História e Organização dos Noke Ko’i.
O povo recebeu o nome de ‘Katukina’ através dos brancos e então a partir da história o que os avós contavam eles vem avaliando o uso do mesmo. Eles tem outro nome próprio que é Nuke Kuĩ que significa ‘povo verdadeiro’, uma autodenominação e com isso estão deixando de usar ‘Katukina’. Atualmente, eles vivem em sete aldeias situadas em duas terras indígenas: a TI Campinas / Katukina, no município de Cruzeiro do Sul, e a TI Rio Gregório, no município de Tarauacá.
História
Dizem que surgiram de uma beira do mar, numa oca como se fosse teia de aranha. Quando deus chegou lá, eles estavam conversando para sair, mas não conseguiam. Então deus chegou lá, escutou a voz deles e perguntou quem é que estava lá dentro. Como eles não tinham como sair, ele fez uma porta e então saíram. Assim vieram para atravessar o rio onde o jacaré serviu de ponte. Este é como se fosse o mito. A origem é o rio Juruá e hoje eles moram na beira do rio Campinas.
O processo de demarcação da terra foi através do sertanista Antônio Macedo e do antropólogo Terri Valle de Aquino, quando eles trabalhavam na Comissão Pró-Indígenas do Acre. A terra foi demarcada em 1984 e homologada em 1993. As lideranças daquela época eram Francisco de Assis da Cruz e André Rodrigues de Souza.
Os seringais onde os Katukina viveram a maior parte do tempo foram o Seringal Rio Branco, no rio Tauarí, o Seringal Sete Estrelas, no rio Gregório e, por último, o Seringal Campina.
A Língua Indígena e a Educação Escolar
foto: acervo CPI-Acre
A língua sempre é muito viva, e não é preciso revitalizar. Hoje, 97% da população é falante da língua, apenas 3% da população só fala português.
A escola fortalece tanto a língua, como as festividades culturais. Na escola, a alfabetização acontece primeiramente na língua Katukina até os 9 anos de idade. O principal professor é bilíngue, ele traduz tudo do português para a língua Katukina, até o hino brasileiro.
Gestão Territorial e Ambiental
O povo tem Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra Indígena que foi feito em conjunto com o Governo do Estado. Eles têm trabalhado muito na área de preservação da floresta e dos animais, e também com sistemas agroflorestais e manejo. Possuem acordos para fazer roçado, que é a definição de quantos hectares uma pessoa pode fazer. E tem acordos sobre caça também, não pode matar dois animais por dia. Caçar com cachorro, eles não caçam mais. Tudo tem regra, na pescaria também tem regra. Então, gestão territorial tem plano.
foto: acervo CPI-Acre
Atualmente, eles só caçam com arma de fogo. Antigamente caçávam com cachorro, técnica de espera, tocaia. Eles caçavam mais de dia, porque, pode ter cobra, acidente. O que eles mais comem é imbiara, caça grande como veado, porquinho, queixada, e anta que é quase extinto lá.
Eles pescam de anzol, tarrafa. De primeiro, eles colocávamos veneno, o tingui, mas daí tiveram prejuízo grande durante cinco anos, então deixamos de utilizar. Agora é mais no anzol, na tarrafa, na ‘manga’ como é conhecido. Eles comem mais peixe pequeno, não tem peixe grande no rio em que moram, tipo piau, curimatã, mandim, dourado, surubim.
A técnica que usam no roçado, por enquanto, é a queima, pois eles ainda não encontram outro tipo de técnica para plantar roça. É plantada mais alimentação indígena mesmo: macaxeira, milho, arroz, batata, batata doce, inhame, mamão, banana, cana, essas coisas…
A maior ameaça são os caçadores de fora, e eles não tem mais ameaça de madeireiros, mineradores…
Produção e Economia
A principal fonte de renda é a venda de artesanato e de produção: milho, arroz e farinha. Também vendem galinha e pato. E tem também os salários dos professores e dos agentes de saúde e os benefícios sociais, como bolsa família, aposentadoria, auxílio maternidade. Para eles que moram perto da cidade, a entrada desses benefícios na aldeia foi um ponto positivo, porque ajuda muitas famílias. Como a terra não tem mais caça e pesca (o que tem é pouco), as famílias utilizam esses recursos para comprar alimento, peixe, frango… A compra e venda acontece dentro da aldeia também, daí o dinheiro circula dentro da terra indígena.
foto: acervo CPI-Acre
O dinheiro mudou as coisas dentro da terra indígena, mas eles não tem outra opção. Por exemplo, o frango já vai congelado há muito tempo, o peixe que eles compram também é congelado, é alimentado com ração, vacina, e não é peixe fresco. Mesmo assim é necessário comprar, mas agora estão tentando reorganizar para criar principalmente mais porcos de maneira dequada
A cidade que mais frequentam é Cruzeiro do Sul. Eles tem a política de que todo mundo tem que morar na aldeia. Não tem nenhuma família morando na cidade. As pessoas que vão para a cidade vão somente para estudar nível superior, mas quando termina têm que voltar, este é o compromisso.
Projeto de Futuro
foto: acervo CPI-Acre
Segundo Fernando Rosa da Silva Katukina (Kapy), liderança e professor indígena (TI Campinas / Katukina)
“O que eu quero, o que nós planejamos, é que nós, povo Nuke Kuĩ, mantenhamos o nosso ritmo, falando a nossa língua, morando na nossa aldeia, cuidando da nossa floresta, cuidando dos nossos rios, cuidando da nossa terra, cuidando da nossa família e continuando a viver na nossa aldeia, é isso que nós queremos.”